"Olhe que não!"
Coleando por vales e montes, estendia-se, qual serpente, a coluna verde do CATEL.
Às primeiras habitações, apareciam sonolentos rostos que acenavam timidamente aos ciclistas.
O abrir da boca era mais um bocejo do que espanto. Mas lá iam dizendo: - "Vieram quase todos de Cunha!".
E nós a contestar, ainda que pouco efusivamente: - "Olhe que não! Olhe que não!".
Também no pelotão, sobretudo os mais atrasados, lamentavam: - "Nunca mais acaba o paralelo".
Íamos subindo pelas estufas do Armindo, pela Raticoma, ... e, em breve, descíamos para Cambeses, com o alcatrão à vista.
- "Cuidado com a curva" - dizia um pai para o miúdo. - "Não saias da minha beira que aqui estás seguro". E o miúdo lá ia ao colo da bicicleta sob as asas protectoras do velhote.
A serpente verde arrastava-se por Nine, agora já mais distendida pelo calor das dez da matina. Com mais gente a espiar pelo rabo do olho e novamente, quando a coluna serpenteava a meio, a senhora idosa que aproveitava o sol retemperador, no banquinho centenário, roubava a palavra à outra e ia comentando: - "Tanta gente! E são de Cunha, que a minha filha disse que leu na camisola". E insistia: - "Vieram todos!".
Nós lá ripostavamos como podíamos: - "Olhe que não! Olhe que não!"
No Santo António de Nine, habituado (o santo) a outras procissões, curvamos à esquerda, rumo a Arnoso e parece que já mesmo no final, o santo rodou ligeiramente a cabeça e despediu-se do rabo verde da serpente. Alguém até afirmou que viu o santo piscar o olho direito... fruto do cansaço, talvez.
No Mosteiro de Arnoso Santa Maria, a serpente verde foi-se enroscando em torno do pão do Casanova e das laranjas do Zé Cardoso, que engoliu, para digerir pela íngreme subida de Tebosa.
Altura para os mirones, com um resto de nostalgia, lembrarem as invasões napoleónicas: - "parecem os Franceses!".
Ao que um, mais afoito e menos cansado, contrariou: -"Portugueses e dos melhores! De Cunha...".
E do lado veio o eco: -"Vieram todos!".
Mas a resposta estava pronta na ponta da língua: -"Olhe que não! Olhe que não!"
Na frente, a serpente verde, agora mais colorida, já às portas de Ruílhe, deixava sair das fauces bem abertas, pela voz do Dinis, que tinha perdido a noite e não queria perder o dia: - "CATEL - Centro de Aproveitamento dos Tempos Livres de Cunha..." e repetia - "CATEL - apoia a cultura e o desporto...".
Arentim à vista!
- "Agora é só descer". - animavam os mais optimistas.
E os curiosos, já com a cauda a aparecer, insistiam: - "De Cunha, vieram todos!".
Apesar da fadiga estampada no rosto e a corroer as pernas, lá sentenciavamos como o famoso político: - " Olhe que não! Olhe que não!"
Finalmente, Cunha estava a ser engolida pela garganta da serpente verde, a voz do Dinis teimava: - "CATEL - ao serviço da cultura e do desporto..."
E os nossos conterrâneos na berma da estrada não nos deixavam mentir - não estavam lá todos!
2 comentários:
Excelente.
Parabens CATEL por mais uma brilhante iniciativa.
Foi bonito de se ver, venham mais iniciativas como esta e pode ser que com estas imagens maravilhosas para a próxima mais pessoas tennham vontade de se juntar a esta grande familia que é o CATEL.
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